Hemorragia de um sonho

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Brasília - O pai do deputado, Jair Bolsonaro durante o Conselho de Ética da Câmara que arquivou duas representaçõescontra o deputado Eduardo Bolsonaro por quebra do decoro (Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agencia Brasil)

Yuri Scardini 

Do choque de mudança para o choque de realidade. Esta é uma síntese dos primeiros meses do governo Bolsonaro. Governar um país de proporções continentais como o Brasil demanda quadros políticos que compreendam em minúcia a complexidade desse desafio. Talvez Bolsonaro sequer tivesse noção de onde estava se metendo.

A pesquisa Ibope traz a queda de 15 pontos na aprovação do governo. Este número é muito sintomático, mas não tão imprevisível, uma vez que Bolsonaro prometeu muito e, naturalmente, a capacidade de realizar mudanças é muito mais lenta do que a voraz expectativa de seus eleitores.

Bolsonaro se elegeu prometendo soluções simplórias para o abismo da realidade. “Acabar com a corrupção? Vamos prender o Lula e os “petralhas”! Melhorar a Educação? Vamos dar um fim na doutrinação marxista das escolas! Segurança Pública? A solução é armar todo mundo!” Economia? Agora eu sou liberal!, taokay?”.

O problema é que ele é vidraça agora. E as soluções não apareceram como num passe de mágica. O brasileiro se acostumou a entender a política como um “FlaxFlu”. Isso é muito nocivo para a democracia, uma vez que além de ser um erro infantil, alçar políticos à condição de heróis é uma fantasia perigosa. O fanatismo cego de direita é equivalente ao de esquerda em corporativismo ideológico; aquele mesmo que faz pessoas crerem na inocência do ex-presidente Lula.

A governabilidade de Bolsonaro está condicionada ao seu apoio popular. Portanto, se ele se desidratar, os “leões” de tocaia em Brasília vão dar o bote, e não vai ter Twitter que segure. Outro problema é contemporizar as várias vertentes internas do governo. Obviamente, todo governo tem suas disputas internas; mas sob discurso antipetista, Bolsonaro uniu água e óleo: o positivismo do exército ao fundamentalismo religioso da bancada evangélica. O liberalismo com os ruralistas. Este caldo químico está fervendo e Bolsonaro não dá sinais de que terá habilidade para contemporizar tantos interesses.

Sem contar os atos questionáveis de seus filhos e também suas relações aproximadas com milicianos cariocas. Tudo isso pode deflagrar crises nucleares dentro do governo. Numa avaliação rápida, Bolsonaro vai ficando acuado e a realidade, batendo a porta.

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Gabriel Almeida

Jornalista há mais de ano anos, Gabriel Almeida é editor-chefe do Portal Tempo Novo. Atua diretamente na produção e curadoria do conteúdo, além de assinar reportagens sobre os principais acontecimentos da cidade da Serra e temas de interesse público estadual.

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