
A escola, mais do que um espaço de transmissão de conhecimento, é um ambiente de convivência, afeto e construção coletiva. É com essa perspectiva que os educadores e palestrantes Fábio Flores e Vicente Falcão lançam o livro “Do porteiro ao diretor, todo mundo é educador”, pela Editora Rotas. A obra defende que o ato de educar não se restringe à sala de aula e que todos os profissionais da comunidade escolar exercem papel fundamental na formação dos estudantes.
Fábio Flores é professor há 31 anos, com atuação nos ensinos Fundamental, Médio e Superior. É geógrafo, pedagogo, especialista em Formação Docente e em Inteligência Socioemocional. Já Vicente Falcão é mestre em Administração de Empresas, mestre e doutorando em Educação, com experiência em gestão educacional e formação de professores.
A obra nasce da constatação de que muitos trabalhadores da escola seguem invisibilizados pela rotina e pela estrutura hierárquica. O livro propõe uma mudança de olhar: reconhecer o valor educador de cada membro da equipe escolar, independentemente de sua função. Merendeiras, auxiliares de limpeza, porteiros, motoristas e profissionais da secretaria convivem diariamente com os alunos e, muitas vezes, são os primeiros a notar mudanças de comportamento.
Para os autores, esse distanciamento é reflexo de desencontros acumulados ao longo dos anos, entre professores e estudantes, entre trabalhadores e gestores, entre a prática e a teoria. Eles apontam que, muitas vezes, os educadores se sentem sobrecarregados, enquanto lidam com uma nova geração de alunos marcada por estímulos constantes. O resultado é uma desconexão crescente entre o que a escola oferece e o que os estudantes esperam encontrar.
Leia também
“Essa nova geração quer sentido, quer voz, quer se reconhecer no que aprende. E quando não encontra isso, vem o desinteresse, a apatia, o comportamento desafiador”, alertou Fábio Flores ao Tempo Novo.
O livro também questiona a permanência de modelos pedagógicos tradicionais, baseados na memorização e na repetição, que já não dialogam com a realidade atual. Para os autores, o problema não está na resistência à inovação, mas na falta de suporte emocional, formação adequada e acolhimento aos próprios professores.
“Manter práticas tradicionais, muitas vezes, é uma forma de se proteger. Um gesto de quem está tentando manter de pé o que ainda consegue controlar”, escreve Falcão. Segundo eles, muitos profissionais seguem métodos antigos não por teimosia, mas por medo de errar, por cansaço ou por nunca serem convidados a fazer diferente com segurança.
Estrutura das Escolas
A crítica se estende à estrutura física das escolas. Logo na entrada, cartazes com ordens e proibições muitas vezes afastam, em vez de acolher. Pouco se vê mensagens de boas-vindas, de incentivo ou de pertencimento. A proposta dos autores inclui repensar esses espaços, transformando-os em ambientes melhores. Um exemplo simbólico é a sugestão de mudar o nome da “sala dos professores” para “sala dos educadores”, permitindo que todos os funcionários da escola compartilhem esse espaço de descanso.
A valorização simbólica também aparece em detalhes, como os crachás dos funcionários, que poderiam destacar os nomes das pessoas em vez dos cargos que ocupam. Para os autores, pequenas mudanças como essas ajudam a romper com a lógica da rotulagem e contribuem para uma cultura de reconhecimento. “Mais do que o cargo, cada pessoa tem uma história. E é essa história que educa”, diz.
Flores e Falcão defendem que uma escola verdadeiramente transformadora nasce do afeto, da escuta e da construção coletiva. Para eles, a escola deve ter propósito, onde o conteúdo e as notas são tão importantes quanto os vínculos. Para isso, reforçam que o protagonismo precisa ser devolvido a quem vive a escola diariamente.