Contorno de São Domingos expande ocupação da Serra Sede e pressiona eucaliptais da Suzano

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Serra Viaduto Rodovia Contorno de São Domingos
Crédito: Divulgação
Serra Viaduto Rodovia Contorno de São Domingos
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Nesta quarta-feira (29), será dada a ordem de serviço para a construção do Contorno de São Domingos, na Serra Sede. A obra irá dinamizar o acesso entre a região central da cidade, que abriga bairros densamente povoados, e a área litorânea.

Além dos benefícios para a mobilidade urbana, o investimento também impulsionará a expansão da ocupação urbana da Serra Sede, fator essencial para a chegada de novos empreendimentos. Atualmente, a escassez de terrenos com potencial comercial tem prejudicado o desenvolvimento local, precarizando a oferta de serviços e produtos. Como consequência, moradores da região da Sede frequentemente precisam se deslocar até Laranjeiras e arredores para acessar serviços básicos, como compras em grandes redes varejistas.

Outro aspecto relevante, especialmente sob uma perspectiva de longo prazo, é que a nova conexão pressiona as áreas de eucaliptais da Suzano, gigante do setor de celulose que detém quase 10% do território da Serra. Em especial, a obra impactará a região do Vale da Lagoa Juara, por onde a nova via se conectará à Avenida Audifax Barcelos (Av. Serra x Jacaraípe).

Serra Sede x Jacaraípe

O problema de acesso terrestre entre Serra Sede e Jacaraípe remonta aos primeiros núcleos de ocupação da cidade no século XVIII. A principal barreira natural entre essas regiões é a Lagoa Juara, que, por séculos, dificultou a conexão direta entre os dois territórios.

Essa dificuldade de acesso foi tão significativa que, enquanto Nova Almeida era um município independente – até a primeira metade do século XX –, Jacaraípe fazia parte de Nova Almeida e não da Serra.

A Lagoa Juara é a terceira maior do Espírito Santo, e para contorná-la é necessário passar pela Avenida Audifax Barcelos, onde a nova via será interligada. Na prática, essa obra desafogará o tráfego em São Domingos, bairro de vias estreitas e altamente adensado. Quando concluída, a nova avenida contará com um viaduto no atual trevo da Serra Sede, pouco antes da Prefeitura, proporcionando um novo acesso à região litorânea, passando entre São Domingos e Planalto Serrano.

Com três faixas de rolamento, calçada e ciclovia, a nova via inaugurará um novo eixo de expansão territorial da Serra Sede.

Impacto no desenvolvimento econômico da cidade

Orçada em R$ 84 milhões, essa obra representa um dos maiores investimentos já realizados na região central da cidade. Desde a implantação do Porto de Tubarão, na década de 1960, a Serra Sede perdeu relevância econômica para a porção sul do município, que se consolidou como principal polo urbano, especialmente com a urbanização de Laranjeiras, impulsionada por obras estruturantes como a Avenida Norte-Sul e o Terminal de Laranjeiras.

Ao dar vida a essa área, o Contorno de São Domingos também contribui para pressionar a Suzano a repensar o uso de sua vasta extensão de terras na Serra. Essas áreas pertenciam à antiga Aracruz Celulose, que posteriormente se tornou Fibria e, mais tarde, foi incorporada pela Suzano.

Os eucaliptais deixaram de ser estratégicos para o município, pois, além de representarem uma monocultura que empobrece a biodiversidade, também limitam a expansão urbana da cidade. Esse processo de transformação tende a se intensificar com a inauguração do Contorno de Jacaraípe, que atravessa diretamente essas áreas de plantação.

Além disso, o próprio Contorno de São Domingos terá ligação com o Contorno de Jacaraípe por meio da Avenida Talma Ribeiro Rodrigues, tornando as duas obras complementares. Elas não apenas melhoram a mobilidade urbana e possibilitam a abertura de novos espaços para ocupação, mas a médio e longo prazo impulsionam a redefinição do uso do território, reduzindo a presença dos eucaliptais e destinando essas terras a atividades mais estratégicas para o desenvolvimento do município.

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Yuri Scardini

Yuri Scardini é diretor de jornalismo do Jornal Tempo Novo e colunista do portal. À frente da coluna Mestre Álvaro, aborda temas relevantes para quem vive na Serra, com análises aprofundadas sobre política, economia e outros assuntos que impactam diretamente a vida da população local. Seu trabalho se destaca pela leitura crítica dos fatos e pelo uso de dados para embasar reflexões sobre o município e o Espírito Santo.

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