Com abandono do Queimado, Prefeitura impede visitação de ruínas

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O pouco que resta das ruínas da Igreja de São José do Queimado pode cair a qualquer momento. Foto: Arquivo TN - Ana Paula Bonelli - Março 2016
O projeto do plano de restauro feito em 2007 custou R$ 106 mil. Já o restauro em si, foi orçado em R$ 3,7 milhões. Mas nada saiu do papel. Foto: Divulgação

Ana Paula Bonelli

Março é mês de lembrar uma das maiores revoltas de escravos do Brasil: a Insurreição do Queimado, ocorrida na Serra, no dia 19 de março de 1849. Neste domingo (19) completam-se 168 anos de história. Infelizmente não há muito o que comemorar. Isto porque o pouco que resta das ruínas do sítio histórico está completamente abandonado e agora quem quiser conhecer o local, não poderá. A Prefeitura da Serra para manter a integridade das ruínas, interditou o local, impedindo a visitação.

A tradicional Caminhada Noturna dos Zumbis Contemporâneos foi cancelada devido à uma orientação da Secretaria Municipal de Saúde de evitar áreas de mata, como uma medida de prevenção à febre amarela. 

Nas comemorações está mantida a sessão solene em homenagem aos 168 anos de Insurreição do Queimado que acontece na Câmara Municipal, na Serra-sede, nesta terça-feira (14), às 18 horas e é aberta ao público em geral.

Tem também neste sábado (18) sarau afro com participações de artistas do Conselho de Cultura, da Academia de Letras da Serra e do Clube de Trovadores. Além disso, haverá apresentações de grupos de capoeira, do grupo Motumbaxé, bem como varal de poesias. O evento começa às 20h e será na praça onde está a estátua Chico Prego, entre a praça Ponto de Encontro e a Igreja Matriz, na Serra Sede.

O pouco que resta das ruínas da Igreja de São José do Queimado pode cair a qualquer momento. Foto: Arquivo TN – Ana Paula Bonelli – Março 2016

Na manhã de domingo (19), haverá uma celebração afro popular macro ecumênica a partir das 9h, em frente à estátua Chico Prego, na Serra Sede.

Por meio de sua Coordenadoria de Comunicação, a Prefeitura da Serra disse que o projeto de revitalização do sítio histórico do Queimado, que inclui iluminação, paisagismo, melhoria do acesso e restauração das ruínas e do cemitério, ainda está em fase de captação de recursos. A Prefeitura da Serra e a Secretaria de Cultura têm discutido a captação de recursos. Uma das opções é a Fundação Palmares do MinC para este projeto. O orçamento previsto para as obras é da ordem de R$ 3,7 milhões.

Vale lembrar que o projeto de restauro foi feito pela Fundação Ceciliano Abel de Almeida em 2007 e custou R$ 106 mil aos cofres públicos.

Liberdade

 A Insurreição do Queimado, ocorreu em 19 de março de 1849, liderada por Chico Prego e Elisiário Rangel. Os escravos travaram uma sangrenta luta pela liberdade, que terminou com centenas de mortos. De acordo com alguns relatos históricos, o frei Gregório Maria de Bene havia prometido liberdade aos escravos, em troca da construção da Igreja de São José. A promessa não foi cumprida, o que gerou a revolta.

A Insurreição do Queimado se insere como uma das mais expressivas lutas do povo negro contra a escravidão no Brasil, juntamente com o emblemático Quilombo dos Palmares, em Alagoas, liderada pelo mítico Zumbi dos Palmares. A escravidão no país foi, formalmente, extinta só em 1888, pela chamada Lei Áurea, de autoria da princesa Isabel.

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Ana Paula Bonelli

Ana Paula Bonelli é repórter e chefe de redação do Jornal Tempo Novo, com 25 anos de atuação na equipe. Ao longo de sua trajetória, já contribuiu com diversas editorias do portal e hoje se destaca também à frente da coluna Divirta-se.

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