Café e celulose derrubam Serra no ranking de empregos, mas efeito deve ser temporário

Café conilon e celulose movimentam a economia e a geração de empregos no interior do ES.
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Café conilon e celulose movimentam a economia e a geração de empregos no interior do ES.

De janeiro a maio de 2025, a Serra foi a 4ª cidade que mais gerou empregos no Espírito Santo, número que contrasta com a costumeira liderança do município nesse quesito. Mas calma: isso não é motivo para pessimismo, já que há uma explicação lógica para esse resultado e, muito provavelmente, a Serra deve recuperar algumas posições nos próximos meses.

Os dados recém-divulgados pelo Ministério do Trabalho e Emprego apontam que, no Espírito Santo, Aracruz liderou a criação de empregos formais, com um total de 3.689 postos de trabalho. Cabe ressaltar que os números dizem respeito a trabalhadores contratados sob o regime da CLT e que postos de trabalho representam o saldo líquido resultante da diferença entre admissões e demissões.

Em seguida, vem a cidade vizinha, Linhares, com 2.423 postos de trabalho a mais, e, por uma margem muito pequena em relação à Serra, aparece Sooretama, que gerou 2.272 empregos adicionais. A Serra, com 2.219, ocupa a quarta posição no ranking estadual.

Colheita do café conilon movimenta o interior

Mas o que explica esses resultados? A resposta está no café e na celulose, duas forças produtivas fundamentais para a economia do Espírito Santo. Em maio, o estado abriu oficialmente a colheita do café conilon de 2025, um momento importante para os capixabas que atuam nesse setor, gerando um aumento expressivo nas contratações de mão de obra. E não é para menos: o Espírito Santo é, consolidadamente, o maior produtor de café conilon do Brasil, e Linhares e Sooretama estão entre os municípios que mais contribuem para essa produção.

Não apenas a mão de obra dessas duas cidades se beneficiou da abertura da colheita, mas também outros municípios fortemente produtivos, como Vila Valério (+1.297), Jaguaré (+1.614) e Pinheiros (+965). A combinação entre preços elevados do conilon, risco de chuvas e a maturação heterogênea dos grãos impulsionou uma colheita mais precoce e, consequentemente, a geração de empregos. Embora essa estratégia possa impactar a qualidade final do produto, ela é considerada necessária para proteger a receita dos produtores e aproveitar as condições favoráveis do mercado.

Portanto, trata-se de um resultado situacional, especialmente no caso de Sooretama, que possui uma economia de menor porte no conjunto geral. Já a Serra, com seu crescimento em escala e de forma contínua ao longo dos períodos do ano, tende a manter um ritmo econômico consistente. Esse dinamismo dá ao município a perspectiva de que a geração de empregos seguirá firme, ultrapassando, com o tempo, as cidades que se beneficiaram de sazonalidades econômicas, como a colheita do café.

Parada Geral da Suzano emprega milhares de temporários

Na liderança disparada do ranking está Aracruz, que tende a gerar cada vez mais empregos em função do contexto de investimentos públicos e privados que têm inserido a cidade no centro de um processo de industrialização e expansão logística portuária. Não por acaso, do impressionante total de 3.689 novos empregos gerados, quase 65% vieram do setor industrial (+2.322 vagas). Esse resultado foi impulsionado principalmente pela Suzano, que neste ano investiu R$ 85 milhões em uma Parada Geral (PG) de manutenção programada, mobilizando 102 empresas de todos os portes e 1.850 trabalhadores especializados.

A Parada Geral da Suzano em Aracruz é uma paralisação programada das operações da fábrica para realizar manutenção preventiva e corretiva de equipamentos, inspeções de segurança, troca de peças, revisão de caldeiras e sistemas elétricos, além de limpeza industrial em grande escala. Como essa parada precisa acontecer em um período curto de tempo para não comprometer a produção, as empresas contratam milhares de profissionais temporários especializados, como soldadores, mecânicos, eletricistas, caldeireiros, pintores e técnicos de segurança do trabalho.

Serra: empregabilidade contínua

A Serra por sua vez segue uma lógica diferente. Em percentual, o setor de Serviços foi o principal responsável pelo saldo positivo de empregos na Serra (+2.219), respondendo por aproximadamente 70,3% do total de postos de trabalho gerados no período. Em seguida, veio a Indústria, com 24,3%, e a Construção, que representou 8,7% do saldo. Já o Comércio apresentou saldo negativo, correspondendo a -1,9%, assim como a Agropecuária, que também teve retração, com -1,4%.

O setor de Serviços é bastante variado na Serra, mas apresenta algumas áreas de destaque, como o segmento de vigilância e segurança privada, que tem se destacado em número de contratações ao longo do ano. A cidade é um polo de empresas especializadas nesse tipo de serviço.

Na Indústria, o segundo setor que mais abriu vagas de trabalho, a atividade metalmecânica continua empregando bastante. Porém, devido ao vasto e diversificado parque industrial da Serra, a maior parte das contratações se concentra em profissionais que mantêm, instalam e calibram equipamentos de medição e controle utilizados em processos industriais, o que puxou o saldo positivo do setor.

A tendência é que, assim que a colheita do café conilon for concluída, Sooretama e Linhares, assim como os demais municípios produtores, reduzam significativamente as contratações formais. Quem pode sustentar um pouco mais os números é Linhares, que está inserida em uma economia maior e mais dinâmica. Já Aracruz vive uma fase de crescimento, e não será surpresa se, nos próximos anos, o município liderar com folga esse indicador.

Vitória em baixa

Já Vitória, que historicamente sempre disputou com a Serra a liderança na abertura de vagas de emprego — embora empregando um perfil de profissional geralmente mais qualificado — tem apresentado um início de 2025 bastante delicado nesse aspecto. Entre demissões e admissões, a capital registrou um saldo positivo de apenas 599 postos de trabalho, ficando em último lugar entre as quatro maiores cidades da Grande Vitória e posicionando-se no meio da tabela em relação aos 78 municípios capixabas.

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Yuri Scardini

Yuri Scardini é diretor de jornalismo do Jornal Tempo Novo e colunista do portal. À frente da coluna Mestre Álvaro, aborda temas relevantes para quem vive na Serra, com análises aprofundadas sobre política, economia e outros assuntos que impactam diretamente a vida da população local. Seu trabalho se destaca pela leitura crítica dos fatos e pelo uso de dados para embasar reflexões sobre o município e o Espírito Santo.

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